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A revista Maré é uma revista de crítica de arte. Escrever sobre exposições, artistas, obras e temas que rondam o universo das artes plásticas é o ponto de convergência do grupo que se reúne em torno deste projeto.

Optar pela crítica como forma de se relacionar com a arte hoje tem algo de contra-corrente. A prática da crítica parece estar adormecida, perdeu espaço para os consensos de mercado também sua força como formadora de ideias. Soma-se a isso uma compreensão equivocada, segundo a qual alguns trabalhos de arte poderiam levar a crer que não há mais nada a ser propriamente criticado ou desvelado mediante uma atenção mais detida do crítico. Referimo-nos aqui a trabalhos que abordam as noções de circulação, crítica institucional e mercado.

Não nos parece que, em face a trabalhos que podemos classificar como mais auto-conscientes em relação a sua inserção no circuito, a crítica seja dispensável ou impossível. Isso vale ainda mais para trabalhos que aparentemente aderem ao mercado, às suas leis e fórmulas. Diante deles nos sentimos instigados a nos pronunciar.

A publicação da revista Maré é importante no sentido de unir teoria e prática, ideia e realização, escrita e debate. É uma posição que não se acomoda diante da dificuldade, compartilhada em diversos âmbitos da sociedade, de elaborar propostas nesse momento de impasse histórico. Embora não se ambicione uma síntese, há necessidade de persistir no debate.

Maré apresentará, a cada seis meses, um Dossiê elaborado pelo corpo editorial que reúne de um conjunto de textos (e eventualmente vídeos) sobre um determinado tema. Escolhemos para o primeiro número o assunto “América Latina”, classificação usada cada vez mais no campo das artes em que crescem considerações sobre uma suposta arte latino-americana. A ideia central é investigar a vigência da expressão para além de uma categoria descritiva.

O primeiro Dossiê conta com um texto que discute a construção política da América Latina como termo cunhado em oposição à América do Norte. Traz também quatro entrevistas em que se discute como cada entrevistado entende e usa a expressão “América Latina” em seu campo de trabalho. Há, ainda, uma entrevista com Edwin Sanchez, artista colombiano cuja produção está intrinsecamente ligada a características sociais e políticas de seu país. Um texto sobre a 8a edição da Bienal do MERCOSUL busca ver em que medida essa mostra atende a uma expectativa criada no contexto político de legitimação dos blocos econômicos. Nesse sentido, há também uma resenha crítica do livro “Entre olhares e leituras: uma abordagem da Bienal do Mercosul”, de Gabriela Motta, que investiga o mesmo tema a partir de entrevistas com artistas participantes das primeiras cinco edições. Complementam esse dossiê a contribuição de dois artistas convidados. Ernesto Neto relata uma experiência vivida na Dinamarca e seus contrastes com o cotidiano brasileiro, em especial do Rio de Janeiro. Carla Zaccagnini comenta clichês e visões estereotipadas da cultura brasileira cristalizadas desde a publicação do livro “Brasil, o país do futuro”, de Stefan Zweig.

Paralelamente, o grupo em torno da Maré procura criar uma rede de colaboradores em todo o Brasil, para que finalmente seja possível tentar uma crítica de arte em dimensões nacionais. Periodicamente, novas críticas de eventos e exposições serão acrescentadas no site da revista.

Encorajamos todos a se engajarem no espírito do debate e fazerem suas próprias observações sobre os textos publicados.

Obrigado e boa leitura